Programa de Exposições CCSP 2008
Uma figura olha para baixo. Outra olha para o lado esquerdo. Outra para cima, de olhos semi-cerrados, em estado de repouso. Outra investiga o que está no lado direito, olhando para algo que não está contido na tela. O objeto do seu olhar, não vemos. Uma olha para mim.
O mim não é somente eu, é você, quando olha. O mim se atualiza a cada novo olhar. Cada um que se posta na frente da tela também é um mim. Pois esta figura olha sempre para o mim, nunca para o outro. E este mim está fora da tela. E como a figura pode me ver? Imagino que me veja. E é assim o olhar? Imaginamos que vemos algo?
Ver o estrangeiro, aquele que habita a exterioridade do nosso meio, é imaginá-lo, pois não temos a rede cognitiva para decifrá-lo. É opaco, como a tinta nestas telas, e em sua opacidade, repele nossa visão.
Não é uma pintura-janela. O que vemos não é uma interioridade. Na superfície da tela meu olhar pára. Ou seja, o que vejo é o limite do meu olhar. Isto sim não é imaginado. É visível. Há distância demarcada. O que vejo afinal é a distância que nos separa.
Mas o desejo de habitar aquele mundo estrangeiro permanece. O desejo da indistância. O desejo de habitar onde não habito. O olhar pousa no horizonte, e como uma pedra atirada ao longe, quer deixar de ser apenas um olhar e se tornar presença. Eu quero estar onde meu olhar tenta alcançar. Mas sou feito de matéria opaca, lenta. No entanto, o desejo permanece. Esse desejo de sair de si não seria um desejo de liberdade?
Há três figuras fantasiadas. Um cavalo, uma princesa e um pirata. Fantasiar-se é imaginar-se um outro. Até mesmo enxergar este outro vestido sobre mim. Um estranho em si mesmo, rebatido no espelho. A fantasia talvez seja uma alteridade embutida.
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