Exposição no Centro Cultural São Paulo outubro/novembro/dezembro 2008

Passagens secretas
(ou compartilhando problemas sobre a recepção da arte contemporânea) Passagens secretas é uma exposição resultante de uma série de exercícios de curadoria que envolvem tanto os críticos do Programa de Exposições do CCSP, quanto profissionais da instituição nas áreas de curadoria, ação cultural e educativa, museografia e comunicação. Cada um dos participantes escolherá um artista com quem desenvolverá um projeto - seja um trabalho, plataforma ou estrutura para a exposição como um todo ou qualquer outra estratégia - que tenha como foco a aproximação em relação ao público ou a um ou mais públicos característicos do Centro Cultural São Paulo. No caso específico dos profissionais do CCSP, a idéia é que eles trabalhem em colaboração com os artistas na concepção de aspectos como a ação educativa, a expografia e a comunicação e divulgação da exposição, além de acompanhar de perto o desenvolvimento de todo o projeto. Assim, os artistas convidados por essas áreas terão uma inserção no funcionamento habitual da instituição e poderão intervir no seu modo de operar. A intenção é que esta atividade se torne também um programa anual, que terminará por construir uma série de afirmações (ou questionamentos) práticos sobre a curadoria como atividade processual. Assim, a primeira exposição pretende-se como um conjunto de possíveis respostas a um desafio crucial colocado pela arte contemporânea em geral e pelo Centro Cultural São Paulo em particular: a relação entre a pesquisa e a produção artística e uma audiência não-especializada. Se por um lado o suposto desinteresse ou dificuldade do público em relação à arte contemporânea é muitas vezes atribuído à falta de informação sobre essa produção, ele também está relacionado às expectativas que se têm em relação ao que é - e como se comporta - uma obra de arte. Em 1971, Joseph Kosuth afirmava que "a audiência da arte conceitual é composta principalmente de artistas - o que significa dizer que uma audiência separada dos participantes não existe. Em algum sentido a arte se torna, então, tão 'séria' como a ciência ou a filosofia, que também não têm 'audiências'. É interessante ou não, exatamente na medida em que estamos informados ou não". Embora a idéia de que a arte teria como audiência exclusiva seus próprios participantes ainda encontre eco hoje, certamente não é ela que tem pautado a atuação institucional. Durante os últimos trinta anos, as instituições artísticas vêm desenvolvendo programas educativos e estratégias de mediação numa tentativa de construir uma ponte entre os dois extremos apontados pela afirmação de Kosuth: a produção artística e a audiência não-especializada. Pois o que pretendemos com Passagens secretas é envolver pensadores independentes e artistas, bem como a equipe do CCSP, no desenvolvimento de proposições que possam contribuir para essa discussão. Por estar localizado em uma área central, próximo à estação de metrô, e por contar com uma biblioteca de grande visitação, além de uma programação variada, que inclui atividades nas áreas de dança, cinema, música, teatro e artes plásticas, o Centro Cultural possui um público bastante diversificado, muitas vezes pouco familiarizado com a produção contemporânea em artes visuais. Trata-se de características que fazem desse espaço um campo de pesquisa privilegiado para se investigar o tema em questão e por à prova algumas hipóteses. Outra plataforma importante para este projeto é uma série de seminários e mesas redondas que terão lugar logo após a inauguração da exposição, no início de novembro deste ano. A intenção é desenvolver essa série de painéis em colaboração com programas de estudo de curadoria internacionais. Nesse sentido, professores e pesquisadores dessas instituições de ensino seriam convidados a contribuir tanto com palestras públicas a respeito do assunto, quanto com oficinas fechadas para a discussão dos processos e resultados desse exercício.

Atuando como curador e integrante do grupo de críticos do Programa de Exposições do CCSP, convidei o artista e arquiteto Chico Zelesnikar para participar do Passagens Secreetas. Segue o texto de apresentação e imagens da sua proposição:


Chico Zelesnikar
Eu contra você, 2008
O que torna o CCSP um espaço público não é somente ser um lugar de convivência agradável com acesso irrestrito, nem o fato de aproximar o público da cultura e da arte. A esfera pública também se constrói na fricção trabalhosa entre dois outros, no encontro efetivo das diferenças. A proposição de Chico Zelesnikar opera justamente na tensão deste encontro. Associa mesas de escritório e jogo onde cria uma superfície de trabalho e batalha entre mentes, peões, reis, rainhas e cavalos. O conflito simbólico é bem vindo. Trabalhamos, você e eu, em partidos distantes e antagônicos, mesmo que sejamos amigos. É um jogo entre adversários atentos, um aos movimentos do outro: exercício de alteridade radical que é a semente de toda esfera pública.









2 comentários:

lia menna barreto disse...
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Emmanuel disse...
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